Capa do Livro Gratidão da série Preces em Versos; Guilherme Fraenkel; 2019; Rio de Janeiro

Capa do Livro Gratidão da série Preces em Versos

  • Guilherme Fraenkel
  • Gratidão (Série Preces em Versos)
  • 2ª. Edição
  • Rio de Janeiro
  • 2019

Juntos Transformando realidades pela educação

João e Eurípides Barsanulfo

Ilustração de Liliana Ortrovsky

Eurípides Barsanulfo

Sacramento/Brasil - 01/01/1880 - 01/11/1918

É necessário viver meus irmãos, e ser mais do que pó

O Brasil passava por profundas transformações. As luzes do século XX brilhavam no horizonte e doze anos tinham deixado para trás a abolição da escravatura.

As lutas eram intensas para transformar o país continental em uma república de fato, o Amapá havia acabado de ser anexado ao território Brasileiro por julgamento da Comissão de Arbitragem de Genebra, O Barão do Rio Branco negociava para anexar o Acre e Rodrigues Alves era o presidente.

João Nasceu a tempo de ver as primeiras lutas de Oswaldo Cruz para erradicar a Varíola e a Febre-amarela. Foi testemunha ocular do feito de Santos Dummont com seu 14bis e experimentou o sol brilhante do afro descendente Ruy Barbosa em Haia.

Em 1914, enquanto explodia a Primeira Grande Guerra, João travava seu próprio conflito de vida e morte tendo se transferido da capital mineira para o interior, onde poderia respirar ares melhores e ser tratado pelo Dr. Barsanulfo, pensador mineiro com grande conhecimento em vários campos do conhecimento humano.

Sacramento, cidade de quase um século à época, trazia como lema “Sacramento de paz e Amor” e transpirava mensagens de esperança pelas mãos do espírita Eurípides Barsanulfo, figura influente em torno da qual muitos fenômenos de natureza quase inexplicável aconteciam.

Há 10 anos militando por valores espirituais e dedicando sua vida para transformar a realidade da sociedade, o homem magro de aparência comum e grande vontade tornava-se ícone de centenas de pessoas enquanto escrevia páginas importantes no entendimento de educação e de justiça social.

Pelas mãos de Eurípides, João teve a oportunidade de repensar sua existência e de se formar como moço empenhado e cidadão consciente da importância de suas ações para a construção de uma sociedade mais justa.

Viveu muitos anos e contribuiu firmemente para a virada do novo século, momento de esperança e muitas lutas que vivemos hoje com ares de nova era.

João, Eurípides e a alma da sociedade

Sacramento para mim era um ideia forte de compromisso religioso através da qual eu expressaria minha fé e obediência a Deus.

Esta era a ideia que eu, como bom católico trazia à mente até que minha família se mudou em busca de ares mais salutares para meus problemas respiratórios.

Como criança pequena que era, logo imaginei que meus pais queriam que eu provasse minha fé e submissão à vontade de Deus suportando a moléstia respiratória que consumia minhas disposições gerais.

A vida tem destas construções!

O que mais uma criança doente e católica poderia pensar ao se mudar da cidade grande para uma pequena cidade de interior chamada Sacramento logo após o seu batismo?

E foi justamente lá, em Sacramento, no interior das Gerais, que aprendi que há muito mais nas flores e nos seres humanos do que as cores, perfumes e pendores...

Lá frequentei um colégio muito especial...

A princípio a contragosto de minha família, é bem verdade, mas os ares renovados, os novos amigos e o clima geral da cidade logo dissolveram muitas impressões negativas suavizando os corações reticentes de meus pais quanto ao credo que se professava naquelas bandas...

Não havia viva alma naquela pequena cidade de vocação religiosa que não conhecesse o professor Eurípides Barsanulfo, que também era médico receitista e amigo dos mortos com quem muito conversava.

Era homem para todas as horas! Ele sabia envolver as pessoas quando falava da importância de investirmos esforços na educação do ser humano de maneira integral e amorosa com vistas à construção de uma sociedade mais justa e feliz para todos.

O Colégio Allan Kardec era realmente muito diferente das concepções de educação daquela época e arrisco dizer que mesmo hoje causaria muito espanto.

Uma educação afetiva e humana que propunha a formação de sujeitos capazes de intervir na sociedade transformando-a em um espaço mais próspero e solidário que saiba respeitar as construções individuais e as capacidades de cada ser.

Hoje vejo uma enorme preocupação das famílias e das instituições em instruir o sujeito para sobreviver em um mundo competitivo e árido.

Eu não estou dizendo que esta seja uma preocupação menor,

Mas vim aqui dizer da importância que devemos dar também à educação dos sentidos, à formação solidária e à construção de relações humanas sólidas e duradouras que podem nos render amizades e felicidades por muitos hoje negligenciada.

Os espíritas dizem que meu querido professor encontrou-se no mundo dos espíritos com o próprio Jesus, figura icônica nas construções sociais ocidentais, e que este encontro mudou profundamente sua vida.

Penso que no interior das Gerais também recebi o sacramento da humanidade.

Firmei forte compromisso com a transformação da realidade à minha volta porque compreendi a importância de envolvermos nosso coração no que fazemos.

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